Resultados / Relatórios

Relatório Técnico - 2018 (Sinópse)
As vinhas do Lau Velho, Lau Novo, Lagameças e Biscaia apresentam os terrenos quase planares, com pendor muito suave em todas as parcelas, observando-se uma variação máxima de cota de cerca de 0.80 m na parcela de Lagameças e cerca de 1.10 m nas parcelas do Lau Novo e do Lau Velho. Relativamente ao padrão de drenagem das águas de superfície, todas as parcelas apresentam padrão de drenagem artificial devido à presença de camalhões, com direcção SW-NE. No caso dos terrenos de Lagameças e Lau Novo, o escoamento apresenta dois sentidos (NE-SW e SW-NE), enquanto que no terreno Lau Velho, este apresenta escoamento apenas no sentido NE-SW. Cerca de metade da área  da parcela de Lagameças apresenta características morfológicas propensas à acumulação de águas de superfície (cerca de 480), enquanto que as parcelas de Lau Novo e Lau Velho apresentam apenas 1/3 das condições de aptidão à infiltração de águas superficiais. Os teores de matéria orgânica predominam na Biscaia, sendo o pH mais baixo e ligeiramente ácido, a par de uma maior condutividade eléctrica. Neste enquadramento, os teores de Zn predominam na Biscaia e no Lau Velho (ainda que não se tenham detectado diferenças significativas entre os tratamentos). Relativamente aos restantes elementos minerais predomina uma acentuada heterogeneidade entre as 4 vinhas, sendo excepções o Mg, Mn e Cu. Enquanto contaminantes, detectaram-se ainda níveis elevados de Pb e As nos solos em todas as vinhas.
Equacionando a qualidade da água do Lau Velho, constatou-se que não subsiste perigo de alcalinização para o solo, possuindo um baixo teor em sódio.
Considerando a influência do clima no processo de biofortificação em Zn, nas quatro vinhas subsistiram factores atípicos na região, não sendo de excluir algum efeito prejudicial no metabolismo de acumulação de Zn nos frutos. De facto, as análises colorimétricas aos tecidos folheares, sugerem a possibilidade da actuação de factores de stress abiótico, eventualmente térmico, fotoinibição e hídrico.
O itinerário técnico de biofortificação em Zn adoptou o conjunto de acções usuais para as vinhas, tendo-se procedido ainda à aplicação folhear de óxido de zinco (OZn) e sulfato de zinco (SZn) em 16 de Junho, 7 e 21 de Julho e 6 de Agosto. As colheitas foram efectuadas em 17.9.2018 (Fernão Pires – no campo do Lau Velho), 24.9.2018 (Castelão – no campo Lagameças), 25.9.2018 e 26/9/2018 (Moscatel – no campo do Lau Novo) e 6.10.2018 e 11/10/2018 (Syrah – no campo da Biscaia). Neste enquadramento verificou-se um acentuado predomínio de interacções sinérgicas, antagónicas e heterogéneas entre a acumulação de Zn e os restantes elementos minerais nas folhas e frutos em desenvolvimento. Este aspecto decorrerá da elevada mobilização de moléculas orgânicas para o fruto em conjugação com factores de stress atrás sugeridos. Neste contexto, seguiu-se a monitorização fisiológica da vinha que revelou na casta branca Fernão Pires que a Pn não foi ligeiramente afectada para ambos os produtos e qualquer das doses aplicadas na 1ª data de avaliação, mostrando maior impacto na 2ª data de avaliação. Destaca-se a manutenção da eficiência fotoquímica (máxima e actual) do PSII em todos os tratamentos, em ambas as datas. Dos restantes parâmetros de fluorescência destaca-se a ausência de efeitos negativos claros para os produtos e doses aplicadas, mas, apesar do impacto na Pn e gs, persistiu a manutenção de maior actividade do transporte fotossintético de electrões (Y(II)), e maior proporção de energia usada para eventos fotoquímicos (qL). Relativamente à casta branca Moscatel a Pn não foi notoriamente afectada para ambos os produtos e qualquer das doses aplicadas na 1ª data de avaliação, tendo permanecido sem afectação (face ao controlo) em tratamentos de ambos os produtos (ligado a maior valor de gs) na 2ª data de avaliação. Tal como na casta Fernão Pires, destaca-se a manutenção da eficiência fotoquímica (máxima e actual) do PSII em todos os tratamentos, em ambas as datas. Dos restantes parâmetros de fluorescência, destaca-se a melhor performance do transporte fotossintético de electrões (Y(II)) e de uso de energia para eventos fotoquímicos (qL) para todos os tratamentos na 1ª avaliação, em consonância com o maior impacto negativo na Pn, o que no seu conjunto sugere o estudo da aplicação de menores doses de Zinco. Na casta Castelão observou-se um impacto na Pn que difere das castas brancas analisadas (Fernão Pires e Moscatel). Ambas as soluções e doses provocaram grandes decréscimos de Pn e gs na 2ª data de avaliação, e apenas ZnO (ambas as doses) não afectou esses parâmetros na 1ª avaliação, pelo que se sugere o estudo de aplicação de menores doses de Zinco. Tal como nas castas brancas analisadas, destaca-se a manutenção da eficiência fotoquímica (máxima e actual) do PSII em todos os tratamentos, em ambas as datas. Dos restantes parâmetros de fluorescência destaca-se que, ao contrário do observado para Pn, na 1ª data de avaliação nenhum tratamento teve impacto negativo na performance do transporte fotossintético de electrões (Y(II)) e do uso de energia para eventos fotoquímicos (qL). Na casta tinta Syrah a Pn não foi afectada para ambos os produtos e qualquer das doses aplicadas na 1ª data de avaliação (apesar de tendência para menores valores de Pn e gs com uso de ZnO), tendo permanecido sem afectação na 2ª data de avaliação, face ao controlo (que também diminuiu). Destaca-se de novo (sendo por isso comum às 4 castas estudadas) a manutenção da eficiência fotoquímica (máxima e actual) do PSII em todos os tratamentos, em ambas as datas. Dos restantes parâmetros de fluorescência, e ao contrário do observado para Pn, o uso de energia para eventos fotoquímicos (qL) foi negativamente afectado por ambos os produtos e doses nas 2 datas de avaliação. Essa afectação generalizada foi ainda observada para o transporte fotossintético de electrões (Y(II)) na 2ª data de avaliação, pelo que, no seu conjunto, os resultados sugerem o estudo da aplicação de menores doses de Zinco.
À colheita o índice de biofortificação média (considerando a totalidade das uvas, com aferição por espectrofotometria de absorção atómica) em Zn, nas castas Fernão Pires, Moscatel, Castelão e Syrah correspondeu a 17,3% - 23,7%, 123% , 123%, e 120%. Subsistiu assim uma acentuada heterogeneidade nos índices de biofortificação de Zn entre tratamentos e tipologia das substâncias pulverizadas. Acresce ainda que, com recurso à quantificação por fluorescência com raios X se constatou que não subsistiram variações apreciáveis nos teores de Zn na casta Fernão Pires, enquanto que na casta Moscatel ocorreu um incremento significativo nalguns tratamentos. Também na casta Castelão o Zn se destacou nalguns tratamentos, enquanto que na casta Syrah não se verificaram variações significativas relativamente ao controlo. Aponte-se que as diferentes concentrações obtidas para os diferentes elementos minerais quando se utilizam técnicas de fluorescência por raios X ou espectrofotometria de absorção atómica, resultaram essencialmente de quatro factores: a) diferentes métodos de preparação das amostras (desidratação ou digestão ácida) para subsequente quantificação dos elementos; b) heterogeneidade no processo de enriquecimento das amostras em Zn (que irão determinar diferentes índices nas relações sinérgicas e antagónicas nos elementos minerais das amostras), pois durante o processo de pulverização a quantidade de cloreto de cálcio total que incide em cada planta poderá variar de forma substancial (o que determinará teores parcialmente diferenciados nas amostras do mesmo tratamento e que assim irão ser detectados durante o processo de quantificação); c) estando a absorção de Zn condicionada pelos factores ambientais (vento, temperatura, radiação solar, humidade do ar, etc.), diferentes graus de exposição das amostras de cada tratamento a estes factores abióticos, pode favorecer a desidratação da calda de oxido de zinco ou sulfato de zinco pulverizada numas amostras em detrimento de outras (num mesmo tratamento), condicionando assim a absorção de Zn; d) diferentes limites de detecção e quantificação em cada uma das técnicas utilizadas.
À colheita, efectuando uma caracterização da acumulação de Zn a nível tecidular, com recurso à espectroscopia dispersiva de energias de raios X (SEM-EDS) e assumindo a razão Zn/Ca, constatou-se que nas castas Fernão Pires e Moscatel parece prevalecer um enriquecimento relativo na zona periférica da película, ocorrendo o oposto nas castas Castelão e Syrah. Paralelamente, efectuou-se o mapeamento da acumulação de Zn com recurso um sistema μ-EDXRF M4 Tornado™, tendo-se verificado que uma razoável heterogeneidade na acumulação de Zn entre a película e a grainha das uvas. Em concreto, verificou-se que a casta Moscatel não apresentou teores superiores de Zn relativamente ao controlo em todos os tratamentos (excepto SZn10), e que nas restantes castas ocorreu na película um incremento substancial nos teores de Zn com a aplicação de óxido de zinco ou sulfato de Zinco. Nas castas Castelão, Syrah  e Fernão Pires, com a aplicação de óxido de zinco verificou-se um incremento em Zn de 170%, 141% e 154%, respectivamente. Nestas castas, com a aplicação de sulfato de zinco também se constatou na película um aumento de Zn em 50,3%, 137% e 70,1%, respectivamente. Paralelamente, nas grainhas da casta Moscatel, Castelão, Syrah e Fernão Pires verificou-se que o Zn predominou em SZn30 e SZn60, OZn30 e OZn60, SZn60 e OZn10, OZn60 e SZn10, respectivamente. Nestes tratamentos os respectivos teores oscilaram entre 19,7 – 28,6 ppm, 20,9 – 27,8 ppm, 19,1 – 27,6 ppm e 49,9 – 44,7 ppm.
Equacionando a densidade, peso fresco do cacho, peso seco, sólidos solúveis totais e parâmetros colorimétricos, constatou-se que as variações nos diferentes tratamentos de cada casta foram pouco relevantes. Relativamente à firmeza, força de penetração e dureza da polpa a biofortificação não foi significativa na casta Syrah, contudo a casta Fernão Pires revelou, face ao controlo, valores menores para a firmeza e força de penetração nas amostras biofortificadas. No plano sensorial constatou-se que na casta Fernão Pires a biofortificação parece influenciar positivamente a aparência, enquanto que na casta Syrah todos os parâmetros organolépticos parecem favorecer a uva biofortificada.
A produção de vinho a partir das quatro castas biofortificadas revelou que de uma maneira geral, após a avaliação pelo painel dos provadores, que os vinhos estavam abaixo do que seria espectável.

Relatório Técnico - 2019 (Sinópse)
A permanência das variedades nos mesmos terrenos do ano anterior, justificou a ausência de nova recolha de solos, efetuando-se apenas a análise da qualidade da água desta vez não só no terreno do Lau Novo, como na Biscaia, sendo que as análises de 2019 corroboram os resultados de 2018, constatando-se novamente que no campo do Lau Novo não subsistiu perigo de alcalinização para o solo, possuindo um baixo teor em sódio. Os parâmetros analisados em 2019 foram ainda semelhantes em ambos os campos em que a vinha é irrigada.
Considerando a influência do clima no processo de biofortificação em Zn, destaca-se que o Verão de 2019 (junho, julho e agosto), espaço temporal em que decorreu o ensaio, foi classificado como frio relativamente à temperatura do ar, e seco equacionado a precipitação.
Através da análise colorimétrica aos tecidos folheares, constatou-se que numa fase prévia à implementação do itinerário técnico, para a casta Fernão Pires já se observavam diferenças entre o controlo e as linhas que seriam sujeitas a pulverizações. Após as quatro pulverizações, verificou-se que para os tratamentos face ao controlo, a luminosidade aumentou, assim como a contribuição do verde e do amarelo. Na casta Moscatel, antes de qualquer pulverização, observou-se para o parâmetro L, diferenças entre o controlo e as linhas que seriam sujeitas a pulverizações com óxido de zinco. Após o final das pulverizações, esta diferença foi atenuada, passando a observar-se ainda uma menor contribuição do verde nos tratamentos com SZn, acompanhado de uma diminuição do amarelo nos mesmos tratamentos. Para a casta Castelão, antes das pulverizações, praticamente não se observaram diferenças significativas nos diferentes parâmetros analisados. Após as quatro pulverizações, face ao controlo, para os diferentes tratamentos, o parâmetro da luminosidade diminuiu ligeiramente, e observou-se uma menor contribuição do amarelo. Relativamente à casta Syrah, à semelhança da casta Moscatel, antes das pulverizações, existiam diferenças no parâmetro L. Após as quatro pulverizações, no parâmetro a*, ocorreu um aumento da contribuição do verde nos tratamentos com sulfato de zinco, e em b*, a maior concentração de OZn, evidenciou menor contribuição do amarelo.
O itinerário técnico de biofortificação em Zn adoptou o conjunto de acções usuais para as vinhas, tendo-se procedido ainda à aplicação folhear de óxido de zinco (OZn) e sulfato de zinco (SZn) em 29 de Junho, 6, 13 e 19 de Julho, nas seguintes concentrações para cada produto: 0 %, 60 %, 90 %. (i.e., 0, 900, 1350 g ha-1). As colheitas foram efectuadas em 26/08/2019 (Fernão Pires – no campo do Lau Velho), 25/09/2019 (Castelão – no campo Lagameças), 10/09/2019 (Moscatel – no campo do Lau Novo) e 14/09/2019 (Syrah – no campo da Biscaia).
Neste enquadramento, observou-se que nas folhas das diversas castas numa fase prévia à implementação do itinerário técnico, os teores de Zn se encontravam semelhantes nas diferentes plantas. Por vezes, as plantas controlo apresentavam teores de Zn superiores às plantas que seriam sujeitas a pulverizações. Na fase posterior à aplicação de quatro pulverizações, os teores de Zn nas folhas de todas as castas foi significativamente superior em todas os tratamentos face ao controlo. Simultaneamente, observou-se que após as pulverizações, os teores de zinco no fruto aumentaram nos frutos pulverizados face ao controlo, observando-se teores significativamente superiores em OZn nos terrenos do Lau Velho, Lau Novo, e Biscaia. No caso do Lau Velho e Lau Novo, também se observaram estas diferenças em SZn60 e SZn90 respetivamente. Em Lagameças, os tratamentos com SZn e OZn60 apresentavam diferenças significativas do controlo. À semelhança do ano passado, verificou-se um predomínio de interacções heterogéneas entre a acumulação de Zn e os restantes elementos minerais nas folhas e frutos em desenvolvimento, podendo este aspecto relacionar-se com a mobilização de moléculas orgânicas para o fruto.
Neste contexto, seguiu-se novamente a monitorização fisiológica das diferentes castas, apontando os resultados obtidos para a possibilidade de aplicação das doses máximas de qualquer dos dois produtos estudados (SZn90 e OZn90), com alguma vantagem potencial no uso de ZnSO4. A única excepção poderá ser a casta Syrah, para a qual se sugere as doses de SZn60 e OZn60, embora a aplicação de doses máximas não deva ser descartada. Dentro das doses máximas de ambos os produtos, a aplicação da forma em sulfato mostra uma tendência para melhor funcionamento fotossintético (por exemplo, Fv’/Fm’ e Y(II), excepto na casta Moscatel). Este poderá ser efeito secundário positivo, devido ao controlo de oídio. Desta forma, SZn90 destaca-se para aplicação generalizada, excepto em Syrah (SZn60). De notar que o ensaio de 2018 apontou para aplicações abaixo de 900 g ha-1 para a generalidade das castas, pelo que na conjugação dos resultados dois anos se deverá optar por uma aplicação mais moderada (900 g ha-1) em vez da dose máxima (1350 g ha-1), apesar desta, em geral, não mostrar efeitos negativos no ensaio de 2019. A aplicação de zinco terá inclusivé um efeito benéfico na manutenção do desempenho da maquinaria fotossintética até mais tarde no ciclo de vida da videira, o que poderá estar ligado, por exemplo, ao papel do zinco nos processos antioxidativos, nomeadamente pelo seu papel na enzima Cu,Zn-superoxido dismutase.
Deve ainda referir-se que as castas que beneficiaram de rega (Moscatel e Syrah) foram as que mostraram maiores ganhos ao nível da fotossíntese em datas mais adiantadas do ciclo de vida da videira. De facto, nas castas sem rega (Fernão Pires e Castelão) poderá ter ocorrido uma interação entre a aplicação de zinco e o forte défice hídrico a que as plantas estiveram sujeitas, principalmente na segunda data de avaliação, que poderá ter limitado (ou potenciado) os tempo e/ou processos de a absorção e translocação de zinco para a uva tendo em conta o impacto na assimilação de carbono em fases mais adiantadas do ciclo de vida, algo a confirmar pelos estudos feitos ao nível do fruto.
À colheita o índice de biofortificação para a casta Fernão Pires, variou entre 12 % e 32,1% (não considerando o tratamento SZn60). Na casta Moscatel (campo Lau Novo), ocorreu biofortificação, obtendo-se um índice que variou entre 6,5 % - 31,0 %. Na casta Castelão (campo Lagameças), o índice de biofortificação correspondeu a 61,0 % - 326,9 %. Por fim, na casta Syrah (campo Biscaia), o índice de biofortificação variou entre 34,8 % e 129,6 %. Observou-se ainda que o tratamento OZn90 apresentou o teor mais elevado em todas as castas.
Equacionando a densidade, peso fresco do cacho e peso seco à colheita, no geral, para as quatro castas, não se observaram diferenças significativas excluindo-se apenas o teor de sólidos solúveis totais, sendo que neste caso, apenas a casta Castelão apresentou um valor superior no controlo face aos restantes tratamentos, contrariamente às restantes castas. À colheita, os índices colorimétricos do fruto não apresentaram diferenças significativas nas castas Castelão e Syrah. No caso da casta Moscatel, a análise de varrimento não indicou diferenças significativas, sendo que apenas se observou uma diferenças entre o controlo e um dos tratamentos no parâmetro b* (amarelo/azul). A casta Fernão Pires foi a única que apresentou diferenças nos dois métodos colorimétricos. Por sua vez, ambas as castas tintas apresentaram valores de transmitância inferiores a 600 nm por comparação com as restantes.
Relativamente ao teor de lípidos nos frutos, as castas de uva branca (Fernão Pires e Moscatel) não foram afetadas pelos tratamentos com SZn ou OZn. Nas castas de uva tinta, Castelão foi beneficiada pelos tratamentos com SZn, apresentando um aumento gradual dos teores de lípidos nos tratamentos SZn-60 (44 %, não significativo) e SZn90 (aumento de 67 %). Em Syrah, o conteúdo de lípidos em OZn90 decresceu 36 % relativamente a OZn60, e não foi afetado pelos tratamentos com SZn. Em controlo, o perfil de ácidos gordos dos frutos diferiu entre castas de uva brancas e tintas, com percentagens semelhantes (30 - 33%) de ác. palmítico (C16:0) e ác. linoleico (C18:2) em Fernão Pires e Moscatel, e predominância de C16:0 em Castelão e Syrah. Com os tratamentos de biofortificação a insaturação dos lípidos manteve-se estável exceto na casta Castelão em OZn90, onde se observou um incremento de 56 % da insaturação (maior DBI) resultante de maior abundância de C18:2 (embora não significativa) e do decréscimo de C16:0.
No plano sensorial constatou-se que através da aplicação de provas triangulares para as diferentes variedades e respetivos tratamentos de biofortificação (apenas concentrações mais elevadas), o painel de provadores identificou que as amostras de uva Castelão e Syrah tratadas com OZn90 como sendo significativamente diferentes das respetivas amostras de uva sem biofortificação (amostras controlo). Salienta-se que a avaliação não foi efetuada nas castas Syrah tratada com SZn90 e Fernão Pires em ambos os tratamentos, por estas se encontrarem em condições não próprias para consumo a quando da sua receção.
Relatório Técnico - 2020 (Sinópse)

Neste 3º ano foram alvo de estudo as mesmas castas e nos mesmos campos dos anos precedentes deste projecto, não se realizando uma nova recolha de solos. Em termos da qualidade da água, verificou-se que tanto para o Lau Novo como para a Biscaia as características mantêm-se face aos outros anos, sendo esta água subterrânea e pouco mineralizada, constatando-se novamente que no campo do Lau Novo não subsistiu perigo de alcalinização para o solo, possuindo um baixo teor em sódio.

Considerando a influência do clima no processo de biofortificação em Zn, este ano no período de ensaio destacou-se uma maior acumulação de precipitação face aos outros (180,1 mm), mas sendo também considerado um dos 3 anos mais quentes alguma vez registados, não sendo de excluir algum efeito negativo na acumulação de Zn nos frutos.

Após a 2ªpulverização foliar, a análise colorimétrica CieLab revelou não haver diferenças entre o controlo e as uvas com tratamento para as quatro castas, nos parâmetros L, a* e b*. De facto, após as 4 pulverizações o mesmo se verificou, denotando-se a ausência de diferenças significativas entre o controlo e as uvas com tratamento, em ambas as análises realizadas (CieLab e análise colorimétrica de varrimento). Sendo de evidenciar uma maior luminosidade na casta Fernão Pires, em geral uma maior contribuição do verde face ao vermelho, à excepção da casta Syrah e uma maior contribuição do amarelo face ao azul, excepto no tratamento SZn90 da casta Castelão. Relativamente aos valores de transmitância tal como verificado em 2019, ambas as castas tintas apresentaram valores de transmitância inferiores a 600 nm por comparação com as restantes.

O itinerário técnico de biofortificação em Zn adoptou o conjunto de acções usuais para as vinhas, tendo-se procedido ainda à aplicação folhear de óxido de zinco (OZn) e sulfato de zinco (SZn) em 6 e 29 de Junho, 14 de Julho e 12 de Agosto, nas seguintes concentrações para cada produto: 0 % e 90 % (i.e., 0 e 1350 g ha-1). As colheitas foram efectuadas em 19/08/2020 (Fernão Pires – no campo do Lau Velho), 16/09/2020 (Castelão – no campo Lagameças), 15/09/2020 (Moscatel – no campo do Lau Novo) e 14/09/2020 (Syrah – no campo da Biscaia).

Ao realizar análises para monitorizar a acumulação de Zn nas folhas das videiras, após a 2ªpulverização observou-se um teor mais elevado nas uvas tratadas, excepto na casta Fernão Pires. Nos frutos nesta fase, verificou-se um teor superior de Zn nas uvas tratadas, excepto na casta Moscatel e Castelão no tratamento SZn90 e na Biscaia no tratamento OZn90. À semelhança dos outros anos, verificou-se um predomínio de interacções heterogéneas entre a acumulação de Zn e os restantes elementos minerais nas folhas e frutos em desenvolvimento, podendo este aspecto relacionar-se com a mobilização de moléculas orgânicas para o fruto.

Tal como nos anos precedentes, realizou-se uma monotorização ecofisiológica das diferentes castas, apontando-se alguma vantagem potencial no uso de ZnSO₄, aquando da aplicação das doses máximas de qualquer dos dois produtos estudados (SZn90 e OZn90). Sendo de realçar que apesar da conjugação dos resultados dos dois anos apontar para o uso de uma aplicação mais moderada (900 g ha-1) em vez da dose máxima (1350 g ha-1), em geral, não se observaram efeitos negativos, de facto, quer em 2019 quer em 2020 a Pn foi inclusivé aumentada na casta Syrah. Apesar do enunciado, em 2020 o efeito benéfico da aplicação de Zn na manutenção do desempenho da maquinaria fotossintética até mais tarde no ciclo de vida da videira, não se verificou. Deve ainda referir-se que as castas que beneficiaram de rega (Moscatel e Syrah) mostraram normalmente ganhos ao nível da fotossíntese em datas mais adiantadas do ciclo de vida da videira. Sendo que nas castas Fernão Pires e Castelão poderá ter ocorrido uma interação entre a aplicação de Zinco e o forte défice hídrico a que as plantas estiveram sujeitas, que poderá ter limitado (ou potenciado) os tempo e/ou processos de a absorção e translocação de Zinco para a uva tendo em conta o impacto na assimilação de carbono em fases mais adiantadas do ciclo de vida. Finalmente, tendo em conta o objectivo de aumentar o nível de Zinco na uva sem afectar negativamente a produtividade e a qualidade do fruto, a ligação destes dados de ecofisiologia com, por um lado, a acumulação obtida de Zinco na uva e, por outro, a produtividade e qualidade alcançada, serão determinantes para perceber se os impactos (positivos e negativos) detectados ao nível do metabolismo fotossintético foram importantes ou, pelo contrário, negligíveis. A conjugação destes resultados será, assim, determinante para aferição do(s) composto(s) e dose(s) mais eficientes a serem adoptados como prática corrente de biofortificação destas castas, nestas condições edafoclimáticas especificas.

Contudo, na conjugação dos três anos de ensaio, não parece haver contra-indicação do uso da dose máxima estudada de 1350 g ha-1 (de ambos os produtos, ZnO e ZnSO₄) relativamente a impactos óbvios no funcionamento da maquinaria fotossintética das plantas das castas Fernão Pires, Moscatel e Syrah. Já relativamente à casta Castelão, a possibilidade de uma interação entre condições de seca e aplicação de Zn sugere (na conjugação dos resultados dos três anos) que a dose a usar deverá ser inferior a 900 g ha-1 de forma a minimizar os impactos nas trocas gasosas foliares.

À colheita o índice de biofortificação para a casta Fernão Pires, variou entre 24,9 % e 59,7%. Na casta Moscatel (campo Lau Novo), ocorreu biofortificação, obtendo-se um índice entre  38,5-44,9 %. Na casta Castelão (campo Lagameças), o índice de biofortificação correspondeu a 11,6-67,4 %. Por fim, na casta Syrah (campo Biscaia), o índice de biofortificação variou entre 5,6 % e 17,1 %. Comparativamente a 2019, onde o tratamento OZn90 era o que manifestava um valor mais elevado nas quatro castas, este ano apenas apresentou um valor mais elevado nas castas Syrah e Moscatel.  Após o processo de microvinificação evidenciou-se na casta Fernão Pires, Moscatel, Castelão e Syrah índices de biofortificação de 140,8 %, 5,1 %, 27,9 % e 55,0 % respetivamente.  Observou-se uma tendência crescente do aumento dos teores de Zn no vinho nas quatro castas (excepto no tratamento SZn90 da casta Moscatel), sendo de realçar uma variação entre castas relativamente ao tratamento (óxido de Zinco ou sulfato de zinco) onde se verifica o maior aumento.

Equacionando a densidade, peso fresco do cacho e peso seco à colheita, no geral, para as quatro castas, não se observaram diferenças significativas excluindo-se apenas o teor de sólidos solúveis totais e o peso seco, sendo que no primeiro , na casta Fernão Pires o tratamento OZn90 apresentou um valor mais baixo e na casta Syrah o controlo apresentou um valor mais baixo, já quanto ao peso seco na casta Syrah o controlo manifestou um valor mais baixo e na casta Castelão o tratamento OZn90 apresentou um valor mais alto.

Relativamente ao teor de lípidos nos frutos, a aplicação de zinco não causou variações significativas nos AGs mais abundantes excepto em Moscatel (> C16:0 e < C18:0 para as duas formulações de zinco) e Syrah, onde a percentagem de C18:1 apresenta aumentos nas 2 modalidades, sendo o aumento superior para ZnSO4. Nas análises do ao DBI dos AGT, não se observou nenhum efeito dos tratamentos com zinco em qualquer das castas, o que indica estabilidade no grau de insaturação dos lípidos. No entanto, comparando os valores das videiras controlo (não tratadas) das diferentes castas, observa-se um DBI mais baixo em Fernão Pires, refletindo a diferença que existe no perfil de AGs (> C16:0 e < C18:3 relativamente às outras castas). Esta menor insaturação (< DBI) dos AGs poderá estar relacionada com o amadurecimento rápido das uvas desta casta, a primeira a ser colhida. O processamento tardio dos bagos já muito maduros poderá ter facilitado a ocorrência de reações de lipoperoxidação e a degradação dos lípidos, o que explicaria o teor mais baixo de AGT e a menor abundância dos 2 AGs polinsaturados (C18:2 e C18:3) de Fernão Pires. Nas restantes castas, com um perfil semelhante entre si, o DBI mais baixo ocorreu em Syrah refletindo a menor abundância de C18:2 já atrás referida. Os resultados sugerem que existem diferenças entre castas ao nível do teor de AGT, do perfil de AGs e do DBI, pelo que poderá justificar-se uma análise comparativa das mesmas, tendo em conta as condições do solo/localização dos terrenos e práticas culturais nas diversas vinhas.

A análise do MDA indicou que nas castas Fernão Pires e Castelão não se observam diferenças entre o controlo e as uvas tratadas, já nas outras duas castas, observa-se um valor mais alto no tratamento OZn90.

Quanto às análises organoléticas à uva, não se observaram diferenças significativas entre as uvas tratadas e o controlo nas 4 castas, desta forma poderá indicar a ausência de alterações depreciativas nas mesmas após tratamento.

Alguns parâmetros de qualidade do vinho são regulamentados, como a acidez total e o SO2 total, apresentando o primeiro resultados entre 3,9-5,3 g/dm³, dentro dos limites estabelecidos pelo Reg. (CE) nº 491/2009, Anexo III- 1 d) com valores 3,5 g/L, já o segundo apresenta valores entre 22-136 mg/l, encontrando-se os mesmos dentro dos valores permitidos segundo o Reg. (CE) nº 606/2009, Anexo I B, podendo nos tintos atingir um máximo de 150 ou 200 mg/l e nos brancos 200 ou 250 mg/l, de acordo com o teor de açúcares nos vinhos.

No plano sensorial constatou-se que o vinho produzido com as uvas das castas Fernão Pires e Moscatel sujeitas a tratamento, revelaram uma maior apreciação por parte dos provadores, destacando-se positivamente o tratamento OZn90 no vinho Fernão Pires e o SZn90 no vinho Moscatel.  Relativamente aos vinhos tintos monocasta Castelão e Syrah, o painel demonstrou uma maior apreciação dos vinhos controlo. No entanto, na casta Castelão os vinhos com tratamento apresentam apreciação similar ao vinho controlo. Já no caso do vinho monocasta Syrah, só o vinho com o tratamento OZn90 revelou uma apreciação semelhante ao vinho controlo.