Relatório Técnico - 2018 (Sinópse)
A parcela destinada à produção de tomate para a industria, em Beja/Campos do Roxo, apresentam-se em forma de vertente, com pendor suave a moderado para SE. Este campo experimental possui 1/3 do terreno com características morfológicas propensas à infiltração ou acumulação das águas de superfície e, por conseguinte, nestas áreas a necessidade de rega será inferior à das áreas adjacentes. Os restantes 2/3 do terreno (cerca de 700m2) apresentam aptidão à e drenagem de águas de superfície.
O campo experimental na Quinta do Montalto, destinada à produção e consumo directo de tomate em modo produção biológico, possui a forma de um vale com pendor suave para S-SE, sendo os taludes do flanco oeste mais acentuados do que os do flanco situado a este. Cerca de 95% da área apresenta características que promovem a escorrência de águas superficiais, estando os restantes 5% com aptidão à acumulação, distribuídos de forma dispersa pelo terreno.
Uma análise comparativa dos dois tipos de solo numa fase prévia ao inicio dos procedimentos culturais permitiu constatar a existência de um teor de matéria orgânica, pH e condutividade eléctrica superior na Quinta do Montalto (relativamente a Beja/Campos do Roxo). Porem, relativamente à composição mineral nos dois campos experimentais verificou-se que a Quinta do Montalto embora apresente teores significativamente mais elevados de Ca, K, Mg, P e Zn, detém igualmente uma acentuada contaminação com Pb e As. Por oposição, em Beja/Campos do Roxo os teores de Fe, S não são significativamente diferentes, relativamente à Quinta do Montalto. Acresce que em Beja/Campos do Roxo predomina o Mn, sendo os níveis de Pb e As vestigiais.
Neste enquadramento, em Beja/Campos do Roxo, predomina uma água subsaturada em carbonato de cálcio com tendência corrosiva, enquanto que a mesma está sobressaturada formando incrustações na Quinta do Montalto.
Considerando a influência do clima no processo de biofortificação em Mg, Fe e Zn, nos dois campos experimentais subsistiram factores atípicos na região, não sendo de excluir algum efeito prejudicial no metabolismo de acumulação destes elementos nos frutos.
Nos dois campos experimentais, o itinerário de biofortificação em Mg ou Fe e Zn não excluiu as práticas usuais da cultura. Contudo, enquanto que a aplicação de Mg não revelou sintomas de toxicidade nas duas variedades de tomate para a industria, a aplicação de teores máximos (T4) de Fe e Zn revelou toxicidade após a primeira pulverização folhear. Assim, para minimizar este limite de toxicidade, não se efectuaram aplicações adicionais com esta concentração de pulverizante.
No caso, das variedades de tomate para a industria, efectuou-se uma caracterização fisiológica do impacto da biofortificação em Mg nas plantas. Verificou-se assim que apesar de haver variações nas respostas entre as doses nas 2 cultivares, a Pn foi ligeiramente diminuída pela dose máxima de 4% (10% na H1534; 8% na H9205). Destacou-se igualmente a ausência de impactos negativos na eficiência fotoquímica (máxima e actual) do PSII em todos os tratamentos, ambas as datas e nas duas cultivares. Em geral, a cultivar H9205 manteve maior actividade do transporte fotossintético de electrões (Y(II)), e maior proporção de energia usada para eventos fotoquímicos (qL), que a cultivar H1534 (excepto na dose de 4%). Tal poderá estar ligado a mais eficientes mecanismos de fotoprotecção/dissipação (reflectidos em maior Y(NPQ) e qN, assim como menor Y(NO)) em H9205 do que H1534 (quando comparados com os respectivos controlos).
No seu conjunto os dados sugerem a possibilidade de estudo da aplicação da dose máxima de Mg (4%) para ambas as cultivares, apesar da H9205 manter maiores níveis de actividade em relação ao seu controlo (embora frequentemente inferiores aos de H1534 que ainda assim é mais afectada pela aplicação de Mg, por comparação ao seu controlo).
À colheita o índice de biofortificação média (com aferição por espectrofotometria de absorção atómica) em tomate destinado à industria e biofortificado em Mg variou substancialmente nas duas variedades tendo atingido 16,2% na variedade H1534 mas não se verificando na variedade H9205. Neste ultimo caso subsistem duas possibilidades: ou a pulverização do tomate foi residual ou esta variedade não apresenta características favoráveis para a biofortificação em Mg. De qualquer modo, o teste a esta variedade deve ser repetido. Adicionalmente, os teores totais de Mg parecem decrescer para o interior do tomate nas duas variedades (i.e., de acordo com a microscopia de varrimento acoplada a raios-X). Paralelamente, quando se procede à análise da acumulação de Mg por fluorescência com aplicação de raios X (com recurso a um analisador de raio-X Niton Thermal Scientific, modelo Xlt), confirma-se a biofortificação em Mg nos frutos da variedade H1534, ainda que subsistam paralelamente alterações substanciais nalguns micro e macronutrientes (à semelhança do que também ocorre na variedade H9205). Contudo, com a utilização desta técnica também se observou um incremento dos níveis de Mg na variedade H9205 nos dois últimos tratamentos, ainda que também não seja clara a tendência de acumulação da periferia para o interior na região equatorial do fruto. A discrepância observada poderá ter fundamento na heterogeneidade biológica, grau de exposição de diferentes frutos à pulverização ou ainda decorrer da tipologia das amostras (i.e., extracção total na espectrofotometria atómica, selecção de regiões heterogéneas na amostra de cada tratamento para a fluorescência com aplicação de raios X ou a diminuta área seleccionada através da microscopia electrónica de varrimento).
Nas duas variedades de tomate destinado à industria não se visualizaram implicações da biofortificação em Mg sobre as dimensões, peso seco, densidade, teor de sólidos solúveis totais ou na colorimetria dos frutos à colheita (muito embora na variedade H1534 tenham ocorrido diminuições na densidade com 4% de MgSO4 e nalguns parâmetros colorimétricos de diferentes parâmetros da variedade H9205).
À colheita, o índice de biofortificação média (com aferição por espectrofotometria de absorção atómica) em tomate destinado a consumo imediato, em modo produção biológica e biofortificado em Fe e Zn verificou-se, ainda que com índices diferentes, nas 3 variedades de tomate (Coração de Boi, Maçã e Chucha). A acumulação de Fe e Zn parece ser preferencial na região central no tomate Coração de Boi, contudo não se vislumbraram tendências claras nas variedades Maçã e Chucha (i.e., de acordo com a microscopia de varrimento acoplada a raios-X). Com recurso à determinação dos teores de Fe por por fluorescência com aplicação de raios X (com recurso a um analisador de raio-X Niton Thermal Scientific, modelo Xlt), confirmou-se a acumulação preferencial deste elemento na região central do tomate Coração de Boi. Paralelamente no tomate Maçã perspectivou-se uma acumulação preferencial de Fe e Zn na zona epidérmica. Acresce que nas 3 variedades subsistiram relações heterogéneas entre estes elementos e os restantes micro e macronutrientes. A justificação para as discrepâncias dos resultados obtidos, face à utilização das diferentes metodologias, será idêntica à já referida atrás.
Nas três variedades de tomate destinado à industria não se visualizaram implicações da biofortificação em Mg sobre as dimensões, peso seco e teor de sólidos solúveis totais à colheita (com excepção para o teor de sólidos solúveis totais na variedade Maçã em T4).
Equacionando as características organolépticas dos frutos destinados ao processamento industrial, observou-se uma ligeira tendência para a variedade H9205 apresentar valores de dureza, e dureza da polpa superior à variedade H1534. Contudo, a variedade H9205 teve uma eceitabilidade superior nos atributos textura, aroma/sabor e apreciação global, relativamente à variedade H1534. Porem, relativamente ao impacto da biofortificação em Mg, apenas se observaram diferenças no aroma/sabor da variedade H9205, ou seja, o controlo apresentou maior índice de aceitabilidade, relativamente à amostra biofortificada.
Nos frutos destinados obtidos em modo produção biológico, verificou-se que a variedade Coração de Boi apresentou maior aceitabilidade face às restantes variedades. Adicionalmente, na variedade Coração de Boi, a biofortificação penalizou a aceitabilidade ao nível do aroma/sabor e apreciação global, enquanto que na variedade Hedvig praticamente não se observou influencia da biofortificação nos atributos sensoriais e na variedade Edwin as amostras biofortificadas tiveram maior aceitação sensorial que as amostras testemunho para todos os atributos estudados.
Relatório Técnico - 2020 (Sinópse)
No tomate para a indústria, no campo do Roxo, efectuou-se uma caracterização fisiológica do impacto da biofortificação em Mg nas plantas. Confirmando os resultados de 2019, a aplicação de 8% MgSO4 não tive efeito negativo na Pn, mostram inclusivé um aumento transitório deste parâmetro após todas a aplicações (10 de Agosto), embora tal não se mantenha “à colheita”.
Os parâmetros de fluorescência concordam com os de Pn, indicando que a aplicação de de MgSO4 até 8% não tem qualquer impacto negativo no funcionamento da maquinaria fotossintética na cultivar H1534, observando-se ainda uma melhor eficiência no uso da energia luminosa por processos fotoquímicos. (aumento de Y(II) e qL; decréscimo de Y(NPQ) e qN), ainda que de forma transitória após todas as seis aplicações (10 de Agosto). Adicionalmente, considerando a conjugação dos resultados de 2019 e 2020 demonstram que a aplicação de 8% MgSO4 não tem qualquer impacto negativo no desempenho da maquinaria fotossintética
À colheita o índice de biofortificação média (com aferição por espectrofotometria de absorção atómica) em tomate destinado à indústria e biofortificado em Mg do campo experimental do roxo, oscilou entre 21,2 – 24,2%, verificando-se índices de biofortificação inferiores ao ano de 2019, que oscilaram entre 89-122 % na variedade. Sendo que, em 2020 subsiste a hipótese de as pulverizações no tomate terem sido residuais. De qualquer das formas, verificou-se um índice de biofortificação máximo no tratamento de 8%.
O tomate do campo experimental Quinta do Montalto, à colheita, foi analisado por fluorescência por aplicação de raios-X, sem extracção prévia dos elementos minerais, sendo que relativamente ao controlo (T0), os dados relevaram um incremento nos teores de Zn no tratamento T1 da variedade Coração de Boi, enquanto que nas duas outras variedades (Maçã e Chucha) não se verificaram diferenças significativas entre tratamentos (exceptuando no tratamento T2 da variedade Maçã). Porém, apesar de não se verificarem diferenças significativas entre tratamentos, o tratamento T1 da variedade Chucha, apresentou um teor de Zn superior ao controlo (T0). O índice de biofortificação média em Zn na variedade Coração de Boi de cerca de 79,5 % e na variedade Chucha de 37 %. O índice de biofortificação média (com aferição por espectrofotometria de absorção atómica) em tomate destinado a consumo imediato, em modo produção biológica e biofortificado em Fe e Zn verificou-se, ainda que com índices diferentes, nas 3 variedades de tomate (Coração de Boi, Maçã e Chucha). Relativamente ao controlo os teores Zn, não apresentaram diferenças significativas entre tratamentos nas três variedades, enquanto que se verificou o oposto nos teores de Fe. Os teores obtidos apontaram para um índice de biofortificação em Fe e Zn que oscilou, respetivamente entre 11,9 – 97 % e 3,1 - 13,3 %, 16,5 – 30,3 % e 13,8 – 14 %, e 114 – 271 % e 1,5%, respectivamente para a variedade Coração de Boi, Maçã e Chucha.
O ensaio do campo do IPBEJA, permitiu observar que duplicando a dose de 8% para não há impactos negativos na Pn (ou qualquer dos restantes parâmetros de trocas gasosas), em ambas as cultivares (H1534 e H9205), havendo mesmo uma subida da Pn na cultivar H1534 após a totalidade das aplicações de 16% MgSO4. A avaliação dos parâmetros de fluorescência permitiu confirmar a ausência de efeitos negativos nas plantas submetidas a ambas as doses e em ambas as cultivares, no que respeita ao funcionamento da maquinaria fotossintética (Fv’/Fm’, Y(II) e qL), ou dos processos de fotoproteção (Y(NPQ), qN), havendo mesmo (tal como em Campos do Roxo) uma tendência para o aumento dos valores de Y(II) com a aplicação de 8 e 16% MgSO4, significativa apenas para H9205 após quatro aplicações da dose de 8%. Constata-se que a aplicação de 8% MgSO4 não tem qualquer impacto negativo no desempenho da maquinaria fotossintética. Adicionalmente, também a dose de 16% se revelou segura, podendo até pontualmente ter um impacto positivo. À colheita, procedeu-se à quantificação por espectrofotometria de absorção atómica, após extracção dos elementos minerais dos tomates obtidos, verificando-se que, relativamente ao controlo, os teores de Mg foram significativamente superiores ao controlo no tratamento de 8% de MgSO4 na variedade H1534 e nos tratamentos de 8% e 16% de MgSO4 na variedade H9205. Estes valores apontaram para um índice de biofortificação em Mg que oscilou entre 2,5 %- 4,4 %, comparativamente ao controlo, na variedade H1534. Enquanto que, na variedade H9205 o índice de biofortificação em Mg oscilou entre 6,3 % – 6,6 %. Salienta-se que estes índices de biofortificação apresentaram-se inferiores aos obtidos em 2019, subsistindo a hipótese de as pulverizações no tomate terem sido residuais. No que diz respeito ao teor de lípidos, verificou-se que na variedade H1534, do campo do Roxo, o perfil manteve-se nos diferentes tratamentos, apesar de terem ocorrido algumas modificações na percentagem relativa de alguns AGs, nomeadamente um aumento percentual de C18:0 na modalidade MgSO4 8%, e de C18:3 na modalidade MgSO4 4%, salientando-se que este é um AG poliinsaturado considerado benéfico e essencial para a dieta humana. No entanto essas variações não se refletiram na insaturação dos lípidos, mantendo-se o DBI com valores estáveis. No campo Quinta do Montalto, os tratamentos aplicados não afetaram o teor de lípidos nas três variedades, apresentando valores semelhantes entre si em condições de controlo. Também não ocorreram alterações nos valores de DBI, o que reflete estabilidade no grau de insaturação dos lípidos nos frutos obtidos nos diversos tratamentos, em todas as variedades. Relativamente ao perfil de AG, comparando plantas controlo observaram-se algumas semelhanças entre as 3 variedades, nomeadamente em relação à maior abundância de ácido linoleico (C18:2).Considerando a textura dos tomates biofortificados à colheita, apenas a variedade chucha apresentou diferenças significativas na firmeza, constatando-se um valor mais elevado no tratamento mais elevado (T2), seguindo-se do tratamento (T1), tendo o controlo apresentado valores de firmeza mais baixos comparativamente aos tomates biofortificados.